Comunidade brasileira está de luto: morre Geraldo Carlos, o Corredor da Paz
Uma derradeira homenagem será prestada ao Corredor da Paz no próximo sábado, dia nove de abril
A comunidade brasileira nos Estados Unidos acaba de perder uma de suas figuras mais emblemáticas. Morreu em Newark, na madrugada desta terça-feira, 5 de abril, o mineiro Geraldo da Silva Carlos, 62 anos, conhecido como O Corredor da Paz.
Nascido e criado em Governador Valadares, Geraldo Carlos se destacou no atletismo, ganhando provas importantes em todo o interior do estado. O desejo de disputar a Maratona de Nova York o trouxe aos Estados Unidos, de onde nunca mais voltou ao país natal.
Morando em New Jersey, trabalhou durante alguns anos na construção civil e fez parte da lendária Adams Travel, empresa que foi fundamental no atendimento aos brasileiros na década de 1980.
Com o passar do tempo, Geraldo decidiu abandonar o esporte e começou a levar uma vida diferente, dedicando-se a ajudar as pessoas e abdicando de uma vida que obedecesse aos parâmetros da sociedade convencional.
Vestia-se de maneira esdrúxula, sem se importar com a opinião alheia. Desta maneira, poderia sair às ruas vestido de soldado confederado, índio norte-americano – com um enorme cocar de penas -, Abraham Lincoln ou São Francisco. Na páscoa vestia-se de coelho, distribuindo ovos de chocolate para as crianças e, no natal, encarnava o espírito de Papai Noel pelas ruas da cidade.
“Ele foi uma celebridade de Newark, um ser humano maravilhoso, amigo das crianças, sempre ajudando o próximo. Realmente correu pela paz e agora está indo ao encontro dela. Deus no controle, amigo, você vai fazer muita falta”, escreveu Tônia Zarro, amiga de Geraldo, no Facebook.
Nômade, Geraldo não parava muito tempo no mesmo lugar e passou várias temporadas em outros estados, mas sempre retornando a New Jersey e à Newark, onde era reverenciado como uma pessoa que gostava de ajudar o próximo.
Este altruísmo foi recompensado com o carinho de comerciantes e compatriotas, que o acolhiam em diferentes ocasiões e lhe davam alimentação gratuita em vários restaurantes e lanchonetes da cidade.
“Era sempre alegre e disposto a ajudar as pessoas como podia. Há um tempo atrás estava com minha filha em uma festa na Ferry Street e o encontramos. Ele veio ao nosso encontro e presenteou Joanna com uma camisa do Cruzeiro. R.I.P. Geraldo. Jamais será esquecido””, comentou Ana Blye no Facebook.
HOMENAGEM DA POLÍCIA
Geraldo era notívago e costumava caminhar pelas ruas do bairro do Ironbound, chegando mesmo a ajudar a polícia, evitando que alguns crimes fossem cometidos contra os residentes.
Sua coragem foi recompensada com uma placa de reconhecimento das autoridades municipais, entregue pelo então chefe de polícia Anthony Campos. Numa outra ocasião, Geraldo interrompeu um assalto, mas foi cruelmente agredido pelos bandidos, indo parar no hospital com várias contusões e o nariz quebrado.
NAS REDAÇÕES
Geraldo tinha especial apreço pela imprensa e frequentou diversas redações em diferentes estados. Durante mais de 30 anos ele foi presença constante no Brazilian Voice, onde chegou a ajudar na distribuição do semanário. Como ele se mudava muito de residência, usava o endereço e telefone do jornal como se fossem da sua casa. Até hoje é comum a empresa receber correspondências endereçadas a ele.
Foi assim que, na quinta-feira da semana passada, uma assistente social do Hospital Universitário de Newark entrou em contato telefônico com o jornal, pedindo informações que levassem à família de Geraldo.
Uma vez estabelecida a conexão entre familiares no Brasil e os médicos, o editor Roberto Lima foi chamado pelos agentes sociais a comparecer ao hospital Universitário para reconhecer a pessoa que lá estava internada em estado inconsciente.
“Era ele”, conta Roberto.
Segundo os médicos, Geraldo sofreu um acidente vascular muito forte, o que causou a sua morte cerebral. Trata-se de um quadro irreversível, em que a pessoa é considerada legalmente morta, e os aparelhos que mantêm a respiração e os batimentos cardíacos serão desligados caso o paciente não seja doador de órgãos. Familiares de Geraldo no Brasil chegaram a liberar a doação de órgãos, mas não foi possível devido a ausência de recipiente 100% compatível.
“Meu Tio tinha o desejo de ser doador de orgãos e nós tentamos fazer isso para que assim ele continuasse a vida através de outras pessoas, mas infelizmente não foi possível. O organismo do (possível) recipiente era incompatível e assim encerramos nossa missão e nos despedimos desse ser humano incrível, que foi Geraldo da Silva Carlos, conta sua sobrinha Rayssa, que vive em Governador Valadares e foi a interlocutora da família junto ao Hospital Universitário de Newark.
“Sua missão foi cumprida na terra, descanse em paz.”, disse Rayanny Silva, outra sobrinha de Geraldo e que reside em Portugal.
ÚLTIMA HOMENAGEM
Uma derradeira homenagem será prestada ao Corredor da Paz, para que todos tenham a oportunidade de vê-lo pela última vez. Após o velório, o corpo de Geraldo será cremado, como era o seu desejo, confidenciado à amiga Claudia Cascardo. As cinzas serão distribuídas no mar, em sete diferentes praias do sul de New Jersey. Uma última porção será jogada do alto da ponte de Harrison, no rio Passaic.
“Ele sempre falava isso, pedindo que eu dissesse ‘Vai com Deus, Geraldo… Vai com Deus, Geraldo”, contou Claudia, que se encarregará de fazer cumprir o último desejo do seu amigo.
O velório acontecerá no próximo sábado, dia nove de abril, de 3PM às 5 PM, na Las Rosas Funeral Home: 1055 East Jersey Street, em Elizabeth-NJ.