A ditadura do não

A maioria das pessoas cresce e constrói sua identidade a partir do que não pode fazer. A quantidade de “não” que escuta desde a infância é tão grande que chega a ser paralisante. Assim, o cérebro (que deveria ser palco de manifestações criativas e inovadoras) vai criando limitações para que a pessoa possa sentir-se aceita no meio em que vivemos.

Vivemos em uma sociedade extremamente crítica, que não tolera erros, e isso nos torna excessivamente autocríticos. Cerca de 95% das pessoas mantém uma “conversa negativa” consigo mesma, condicionando seu cérebro a pensar mais no que não quer do que no que deseja.

É sabido que os principais referenciais de uma pessoa são instituídos durante a infância, até os 7 anos de idade. Nessa fase, chamada de “absorção”, reagimos aos estímulos externos como uma esponja, simplesmente absorvendo-os. Essa é a fase em que aprendemos mais e  perpetuamos tais conhecimentos em nossa personalidade.

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos revelou que crianças, até os 8 anos de idade, recebem cerca de cem mil “nãos”. Pode parecer um número absurdo, mas é real. O estudo também revelou que as crianças pesquisadas recebiam, em média, um elogio para cada nove repreensões. Além disso, os pesquisadores descobriram que, para anular os efeitos negativos de uma repreensão, são necessários, pelo menos, sete elogios.

Há uma equação a respeito da influência do “não” na vida das pessoas e vou apresentá-la a você:

A quantidade de “nãos” a que as pessoas foram submetidas, somada ao modo como elas os assimilaram e ao tipo de sensibilidade de cada uma, responde pela quantidade de auto-estima que elas têm hoje.

Atualmente, as pessoas deixaram de pensar naquilo que desejam, mas são capazes de relacionar tudo o que “não” querem para sua vida. O problema é que a palavra “não” provoca uma reação paradoxal no cérebro, pois não possui representação lingüística. Ao ler ou escutar a palavra “quadrado”, por exemplo, você forma imediatamente uma imagem mental da figura geométrica em questão. E se eu lhe disser “Não pense em um quadrado”, seu cérebro desprezará o “não” e continuará pensando em um quadrado, registrando só o que veio depois do “não”, ou seja: “pense em um quadrado.”! Por isso é tão importante fazer afirmações positivas.

Outro dia, em um de meus cursos, um pai de família me disse que está cansado de pedir ao seu filho que não brigue com a irmã, mas ele continua brigando. Expliquei a esse pai que o filho, ao escutar “não brigue com sua irmã”, despreza o “não” e assume só o que vem depois: “brigue com sua irmã”. Sugeri-lhe que passasse a pedir ao filho para ser gentil com a irmã, pois assim ele visualizaria a correta e seu cérebro, pouco a pouco, o ajudaria a transformar essa imagem em realidade.

Esse é o paradoxo do não: as pessoas sempre pensam naquilo que são solicitadas a não pensar.

Nosso cérebro está programado para atender às nossas vontades, mas se pensamos apenas no que não queremos, dificilmente alcançaremos o sucesso. Para ver o mundo de uma outra forma é preciso pensar positivamente e estabelecer relações com pessoas prósperas e de bem com a vida. Além disso, é fundamental estipular metas positivas. As metas nos estimulam a seguir adiante, mas como ninguém gosta de ir em direção a coisas negativas, se as metas não forem positivas não teremos motivo para tentar alcançá-las. É preciso identificar o que nos faz bem e felizes, pois ninguém pode obter satisfação daquilo que você não quer.

 

Dr. Lair Ribeiro — Palestrante internacional, ex-diretor da Merck Sharp & Dohme e da Ciba-Geigy Corporation, nos Estados Unidos, e autor de vários livros que se tornaram best-sellers no Brasil e em países da América Latina e da Europa. Médico cardiologista, viveu 17 anos nos Estados Unidos, onde realizou treinamentos e pesquisas na Harvard Unversity, Baylor College of Medicine e Thomas Jefferson University.

Webpage: www.lairribeiro.com.br

e-mail: lrsintonia@terra.com.br

Tel. 0-55-11-3889.0038

 

Back to top button